segunda-feira, 1 de junho de 2009

Cheiro de saudade

Eu parei em frente ao portão, depois de tantos anos passei por ali pra “rever” emoções.

Minha vontade era de entrar pelo portão e passar correndo pela porta de vidro fume, e chegar até o quarto dos fundos onde eu poderia pegar a boneca que eu penteava, os panos que minha vó bordava, as rendas, o ovo de madeira pra costura, as quinquilharias deles dois e até a bicicleta verde, com garupa, a mesma que me derrubou anos atrás.

Depois eu passaria voando pela porta da cozinha, com a tela verde pra proteger dos pernilongos, pra sentir o cheirinho de molho de tomate natural, saindo da panela e experimentando na colher de pau, depois que minha vó soprasse pra eu não queimar a língua. Eu ia sorrir e logo sair correndo de novo pro quarto do meu vô, me jogar na cama e abrir seus perfumes que ficavam na cabeceira, vidro por vidro...pra mim todos iguais, todos com cheiro de vô.
Em seguida eu ia sapecar na sala, apertar os botões da tv antiga, sentar na almofada em frente aquela maravilha eletrônica e mexer no móvel onde ela ficava, daqueles com portinha de vime, de correr, com furinhos, enfiaria meus dedinhos lá até meu avô aparecer e me olhar com a tentativa de um olhar sério pra me dar uma bronca. Daí eu fingiria que não fiz nada, ia rir e me jogar pra trás e ele diria: meniiiiina!

O almoço ficaria pronto, eu ia lavar as mãos no banheiro verde-azulado, pia grande, sabonete cheiroso, ia sentar na cadeira, meu avô do meu lado esquerdo, minha irmã do direito e a vó torta na outra ponta, o cheirinho bom, o gosto bom, a companhia sem igual....

E depois do almoço eu ia cochilar no colo do vô, na cadeira de esticar as pernas, embaixo do relógio de cuco e ia futucar a orelha dele e bagunçar seu cabelo branco, ele ia balançar um pouquinho até eu pegar no sono....

E então eu acordei desse sonho...voltei pra dentro do carro, o motor ainda ligado, a máquina não funcionou, vai ver não era pra eu tirar foto daquela que foi a casa de tantas risadas e brincadeiras, tanta saudade, tanto carinho.
Meu coração apertou de um tanto, deu um nó na garganta e eu pude sentir o cheiro de novo, cheiro daqueles tantos perfumes que tinham um cheiro só, cheiro de vô, cheiro de vó, cheiro de amor!