quinta-feira, 3 de julho de 2025

V de Vitória

 

No dia que eu retribuir maldade com mais maldade, eu falhei na vida.

E isso não quer dizer que eu seja capacho, sangue de barata ou qualquer um dos adjetivos que o povo acha que pode usar pra diminuir as pessoas que preferem paz.

Obvio que eu sei brigar pelos meus direitos e dos que eu amo

Obvio que eu sei me posicionar diante de coisas que eu não aceito

Eu dou um boi pra não entrar numa briga, mas uma boiada pra não sair dela

O fato é que eu não vou usar de maldade pra me sobressair ou me vingar

E eu acho vingança uma coisa muito pequena.

Se você quer reagir, então reaja, mas vingança é tão... tão ....bahhhh

Então, se valer a pena eu brigo, se eu souber que aquilo vai me levar a algum lugar, que vai me dar outra visão ou me fazer pensar em algum erro que eu tenha cometido, eu brigo...

Se não, meu camarada, me deixa

Me deixa usar meu tempo e energia pra algo interessante

Me deixar usar meu presente diário divino pra fazer coisas que façam meu olho brilhar, que me traga memórias que me façam sorrir, que eu tenha a companhia de pessoas caras, de fala boba, de riso solto.

Dane-se se vão achar que eu “deveria ter que”.

Eu não deveria ter que nada

Me poupe de ter que ouvir “ah se fosse comigo”

Se fosse com você, meu bem, faça o que bem entender

Se eu pedir sua opinião, ainda assim não sou obrigada a “ter que nada”, opinião eu peço pra tentar conhecer outras alternativas, mas quem decide, no final, sou eu.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

45 dias

 

45 dias

As estações mudaram, se misturaram em minutos... horas talvez

Foram tantas emoções e sentimentos

Um emaranhado de letras em frases desconectadas da realidade que eu achava que vivia

As figuras e imagens brotando e desbotando... borrando a face

Onde havia um sorriso, um misero suspiro de felicidade e vontade

Virou uma aquarela, uma pintura abstrata daquelas que gente não entende, mas sente de maneira tão profunda na alma

O nó na garganta destruindo as cordas vocais de um canto que era tão lindo

Mas foi...

Não deixou de ser...

Sempre será... até aquele dia

Dos 45 dias seguintes onde a tela foi trocada, as tintas espalhadas, os pincéis e cavaletes deixados num canto

Uma sensação de fracasso e sucesso revirando a mente, a xicara de café em cima da mesa enquanto a madrugada avança e arranca o dia logo ali na frente...

Enfrente.

Hora de uma nova pintura, uma arte que não estava nos planos, renove, inove, use tons e sombras a seu favor...

Tem Matisses e Monets escondidos aqui, o Van Gogh o Picasso se reapresentam

O tempo vai mostrando uma nova arte

O que era antes deixou de ser o depois

Ontens não terão mais amanhãs

45 dias

quinta-feira, 10 de abril de 2025

A vida continua

 

A vida continua

Independente da sua dor, a vida continua

Você se machuca, dói, chora, grita...

 A vida continua

No luto

Na separação

Na viagem sem data pra voltar

A vida continua

Todos te apoiam, no começo

Depois...

A vida continua

Só quem fica é você

Na sua tristeza

No seu caos

Desnorteado

Perdido

Só você com você mesmo

Uns te chamam pra sair, tomar um café, quem sabe dançar

Mas depois que o café esfria, a noite acaba...

A vida continua

Cada qual com seu trabalho, preocupação, boleto... a vida continua

Ninguém de fato vai sanar suas dores... perguntam se você está bem e esperam ouvir “tudo e você?”, não estão preparados para ouvir “não, não está tudo bem”... não estão preparados pra ouvir o que te corrói e te desespera, porque cada um já tem o seu lado sombrio e dizem a frase padrão “vai ficar tudo bem”... “você é guerreira, vai sair dessa”... “tem coisa pior”...”importante é ter saúde, o resto...”

O resto é o que dói

O resto que ninguém tá preparado pra ouvir, é o que está deixando os dias pesados, as noites longas.

Mas a vida continua...

sábado, 15 de março de 2025

08.03.2025

Mulher cresce ouvindo um monte de cosas do tipo:

"tá louca?"

"quer um chocolate pra desestressar?"

"tá de TPM?"

"vai se tratar"

Num mundo de criação machista, temos que diariamente ficar provando o quanto somos capazes, o quanto nossa loucura nos faz pegar impulso, só que, infelizmente, nem todas as mulheres conseguem se desvencilhar disso e continuam se sujeitando a frases que a diminuem não só como mulher, mas como ser humano.

Cresci rodeada de mulheres porretas, mas mesmo assim a sociedade machista quer marcar a gente como gado... e muitas vezes duvidei de mim mesma, mas as mulheres da minha vida me fizeram enxergar o quanto poderosa eu era, eu sou. Mulher tem disso, né? SORORIDADE.

E nessa militância muitas vezes considerada chata. é que precisamos nos agarrar para não deixar a peteca cair.

Ninguém solta a  mão de ninguém.

" O estado de São Paulo, em 024, registrou 250 casos de feminicídio, o numero maior registrado pela Secretaria da Segurança Publica. Entre as ocorrências de violência contra a mulher em SP, os casos de estupro também cresceram. No ano passado foram 14.689, o que inclui estupro consumado, estupro tentado e ambas as situações cm vulneráveis. O aumento é de quase 4% em relação ao ano anterior".

A gente luta pela igualdade há anos e eu espero estar viva para ver isso acontecer. Muitos vão dizer: não tem jeito, mulher nunca vai ser igual ao homem e eu digo: graças a Oxalá, que assim seja.

E eu digo isso porque essa frase machista é sempre em tom jocoso, pejorativo...

A igualdade que nós procuramos é de ter o mesmo salário por competência, por habilidade. 

Igualdade de poder sair na rua a qualquer hora do dia ou da noite, com qualquer rupa, sem ser importunada, assediada.

Igualdade de chegar em casa depois de um dia exaustivo e poder fazer nada, ficar de short e camiseta sem ser julgada, porque mulher não pode ficar sem fazer nada que é taxada de relaxada. 

Igualdade de ir para o cinema ou barzinho sozinha sem buchichos alheios apontando que ela está largada, brigou com o namorado... todo tipo de ação de uma mulher tem um julgamento, é impressionante.

Então, diante disso, já que nos deram, um dia só nosso, quero dizer: NÃO DESISTAM

Insistam, persistam, apoiem-se, amem-se e valorizem-se.

Seja quem quiserem ser

Estejam onde quiserem estar.

E aos homens: tentem, não replicar o modelo antigo, antiquado de criação machista e deixem as mulheres de suas vidas voarem, porque eu tenho plena certeza, se você for o homem que apoia, ela vai levantar voo e vai te levar junto nessa viagem.

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Entre sins e nãos

 

Cada vez que eu penso que não

Mais percebo que sim

E assim, devagarzinho

Você vai se afastando de mim

Os passos ficam mais largos

Os olhares mais perdidos

E desenlaçam-se as mãos

De repente vem o toque do pé, e aí eu penso que sim

Mas amanhece de novo, eu percebo que não

Já não vejo mais você chegar

E quando vejo, não sou vista

Não se tem mais o que falar

Eu diria que sim

Mas sinto que não

Um trava-línguas de sentimentos, sem voz, no silêncio

Se eu pudesse... será que devo?

Deveria ser sim... mas o abismo diz... não

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

brechós emocionais

 

Me desapego de roupas, sapatos, bolsas e brincos

Me desfaço de coisas que não uso com facilidade, mas nunca sem emoção

Sou grata pelo que tive e pelo que me serviu o tempo que usei

Mas são coisas, tudo bem

Desapegos materiais pra mim, são fáceis

Mas não desapego de emoções e, entenda, eu digo emoções e não sentimentos, porque sentimentos que não fazem bem, também desapego.

Mas tenho a mania de guardar emoções

Olho fotografias e sorrio

Ouço musicas e “viajo”

Sinto cheiros e perfumes e me enebrio

Eu sou assim

“seguro a chave de casa e fico procurando”, “vou de carro e volto de ônibus”

Eu sou feita de emoções

Não jogo fora as lembranças, nem as ruins, mas essas eu não tenho apego... entende a diferença?

Minha memória recente nem sempre me ajuda, mas lembro de coisas tão antigas... meus 5 anos olhando o arco-íris pendurada no muro daquela casa que a gente morava que tinha tacos no chão e um quintalzão!

E não é nostalgia, eu aceito bem o presente e não vivo do passado, mas quando bate a saudade daquele arco-íris...

E hoje peguei essa foto, eu era tão bonitinha rsrs

Eu tinha 7... talvez  8 anos e era tão travessa, mas tão feliz.

E tudo bem que eu cresci (que bom), mas tão lindo ter esse sorriso pra me lembrar que é isso... a roupa não serve mais, mas esse sorriso de criança eu não quero jamais desapegar.




quarta-feira, 10 de julho de 2024

Bodas de Ouro

 

13 de abril de 1974

Nascia em Corumbá/MS, eu com meus 64 cm de comprimento, meus braços longos e pernas bagunçadas... o calor da cidade me fez empipocar, mas eu estava lá, pronta pra desvendar os mistérios da vida.

E a vida foi se mostrando divertida, lembro de muitos sorrisos, de muita peraltice, de muitos olhares curiosos, de muita vontade de viver.

De criança a menina, eu fui firme com as zombarias, chacotas, brincadeiras bobas do colégio, porque sim, uma menina comprida, magriça, espoleta como eu era, que pulava os muros, corria como um corisco e batia nos meninos... não podia esperar que minha característica mais marcante fosse a fofurice, a meiguice (apesar de eu ser sempre sorridente). Eu era muito levada e isso só me fazia ser notada pra algumas broncas, mas eu não ligava, eu brincava o máximo que podia e tirava boas notas...

mas a menina virou mocinha, deixou o cabelo crescer, mas não deixou de ser espoleta. Eu não deixei a vida me derrubar na famosa adolescência... fui bem a frente do que poderia ser na época e briguei muito pra ser de fato quem eu era e gostava de ser. Perdi amigas, muitas, porque se julgava demais e escutava-se de menos. Eu me fiz autentica, quando as mais cobiçadas eram as mais delicadas... eu não era. Eu queria dançar, eu queria escrever, eu queria desenhar, cantar, jogar volley... eu queria o mundo e continuei brincando com a vida e era feliz, mesmo por vezes sendo ignorada por alguns e julgada por muitos.

Eu sabia quem eu era, e isso me bastava. Louco pensar que há 30 e pouco anos eu era uma rebelde sem causa só porque eu queria usar a roupa que eu gostava, o cabelo, o brinco, o tênis colorido e no fundo eu era tão careta rsrsrs

A mocinha virou mãe muito nova, eu sei, mas que fascinante ter um filho com 22/23 anos. Hoje meu menino é um homem com quem compartilho tantas coisas boas, meu beinho... meu grande amor me fez ser mãe, mulher, lutar pelo que ele merecia... sim, porque mesmo sendo apenas há 27 anos, ser mãe solo não era das melhores coisas que poderiam acontecer. Quantas vezes ouvi (no cochicho) que eu não era mulher pra ter relacionamento sério, quem vai querer namorar uma mulher com filho pequeno?

E assim a vida foi indo e eu fui em muitas marés... marés calmas, marés mais bravas e até alguns tsunamis.

Minha vida foi indo e muitas e muitas vezes eu questionei se era o melhor pra mim, pra meu filho, mas eu fui... naquele momento as decisões pareciam certas, e não é que hoje eu me arrependa...ah, me arrependo de algumas sim, não vou mentir. Se eu tivesses feito algumas coisas diferentes, talvez eu tivesse menos culpas hoje... pois é.. a menina que corria pelo pátio do colégio sem medo de cair e se machucar, ficou um pouco vulnerável com algumas coisas e com a idade. Quando todos diziam não liga pra isso ou pra aquilo hoje, lá traz era eu quem dizia pra mim mesma.

Hoje, entendo que eu poderia ter sido menos impulsiva, menos impaciente

Dizem que seria tão bom se tivéssemos 20 anos com a cabeça dos 40-50... mas isso é praticamente impossível. A gente é soma das nossas horas vividas e não tem como não ser.

Eu olho pra mim aos 15 e vejo que delicia foi aquilo tudo, aquele turbilhão de emoções e sensações que a vida me deu. Mas olho também para as decepções e erros e penso: se eu não tivesse feito assim, quem seria eu hoje?

Eu não digo que não mudaria nada, mas seria triste perder essa história, então... agradeço.

Esse ano completei 50 anos... pois é, quem diria que eu seria tão plena aos 50? E não digo de coisas materiais, se bem que conseguir realizar sonhos lindos, com ajuda e empurrões, pois não teria conseguido se fosse sozinha, eu agradeço. A maturidade me faz perceber que ninguém é incapaz só porque o outro ajudou. A gente pode ter ajuda e ainda sim ser capaz de ser quem somos, sem orgulho, bobagem de orgulho de não reconhecer.

Tenho 50 anos com a alma daquela menina do colégio, que corria pra baixo e pra cima que escorregava no corrimão da escadaria principal, que pegava a bola e saía correndo, que pulava os muros sem nem se dar conta que se eu tivesse caído ... vixe...

Eu tenho orgulho de mim, de ter a alma jovem, mesmo que minha lombar não corrobore com isso.

Eu queria ficar pra semente, é serio... eu queria poder viver muitos e muitos anos porque eu amo avida, eu amo ser a Márcia, eu amo ser quem eu sou, viver com quem eu vivo, eu amo ver o por do sol, amo ouvir o som da natureza, o som do meu gato suspirando... mas eu sei que não vou ficar aqui pra sempre. Pode parecer bobagem, mas eu fico pensando: quantos anos mais eu poderei viver, até os 80, então são 30... até os 90, então são 40 e quantas cosias mais posso fazer durante esse tempo que resta, mas quantas pessoas vou perder pelo caminho?

A mente é uma arma que pode ser usada contra nós as vezes

Fazer 50 anos não me deixou pessimista, não, nada disso, mas realista que as coisas findam e seria infantilidade minha achar que não... minha Pollyana tem estado mais madura ultimamente, mas jamais triste, mesmo com algumas dores, decepções, desilusões, medos e inseguranças... eu ainda sou a mesma menina que sorri com os olhos pra vida.

Mas aprendi a reconhecer que algumas coisas não poderão ser feitas como eu gostaria.

Eu sempre soube valorizar pequenos momentos, coisas simples, mas agora aos 50, acho que valorizo ainda mais.

Eu demorei pra escrever sobre meu aniversário, mas acredite, eu vibrei muito no dia e vibro até hoje a alegria, a dádiva de ter feito 50 anos de vida.




quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

As bordas de pizza

 

Separa a bordinha que amanhã eu como com manteiga e café.

Toda vez é assim quando tem pizza. Seja em casa, seja na pizzaria...separa que eu vou levar

E nem sempre eu como, porque na verdade, nem sempre fica gostoso no dia seguinte, mas eu quero sempre levar.

E ontem não foi diferente. A pizza acabou, as bordinhas ficaram no prato. “pega um saquinho, vou levar as bordinhas pra comer com café amanhã”.

- Ahhh, olha lá, igual seu vô, sempre pedindo as bordinhas pro dia seguinte comer com café.

Senti um segundo de paralisia

"Igual seu vô"

Meu vô

Olhei pro meu pai, tão parecido, mas tãããão parecido fisicamente

Olhei pras bordinhas de pizza no prato

Meu vô

Então é isso, é por isso... eu sempre peço, mas não sabia exatamente por que, porque nem sempre eu como, mas eu sempre quero

Meu vô

Meu cabecinha de algodão

Meu turquinho fofo

Que saudade de você

Que saudade das férias, da cama com véu pra não entrar pernilongo

Que saudade dos passeios no calçadão da Praia Grande

Do final de tarde vendo televisão ou dormindo no seu colo na cadeira de balanço debaixo do relógio de cuco

Meu vô

As bordinhas no prato, a saudade no peito e o sorriso no rosto lembrando do meu vô...


 

sábado, 16 de dezembro de 2023

contei nos dedos

se passaram 5 meses 

é um bom tempo

e agora, 5 meses depois, não coloco um texto meu, mas... parece que foi feito pra mim que eu desconfio ter outra Márcias espalhadas por ai.

Ou será apenas que os nomes não são iguais, mas os sentimentos se misturam e ficam parecidos porque é assim que a vida corre pra muitas outras pessoas...(?)

eu uso bastante a licença poética

uso reticências

uso pontos dentro de aspas e/ou parênteses

será que o português me permite? será que a licença poética é mesmo pra isso? sei lá...

mas, vamos ao texto que li, reli e copiei... pra voltar à tona depois de 5 meses

"Somos doutrinadas desde cedo a “parecer”.
Parecer ser bem-educada, parecer ser estudiosa, parecer ser de "boa família" (e eu sei lá o que isso de fato significa), parecer ser uma menina “direita” (e mais uma vez não sei o que isso significa). Somos ensinadas a esconder nossas partes mais primitivas, instintivas, cruas e naturais atrás de um estereótipo de "boa moça". Porém, nunca tive vocação para tal, nunca tive vocação para ser “a boa moça”, embora seja uma moça boa (na maior parte do tempo). É que, de forma geral, as pessoas se importam mais com o que parece, tipo joia banhada a ouro ou joia de vidro. Só que eu nunca fui a mulher da joia, eu sempre fui a mulher do colar de concha, da pulseira de corda, da bijuteria com cara de bijuteria. Eu não tenho que parecer ser alguém que eu não sou, nem gostar do que eu obviamente não gosto para ser vista pelos olhos dos outros como alguém de sucesso. Sucesso, essa palavra que, afinal, tem tantos significados e engessamos em apenas um, limitamos a palavra sucesso e a atrelamos à posição financeira, status e só. Enquanto para mim sucesso é ter saúde mental, física e espiritual, gostar do meu trabalho, ter relações de amizade que me tragam crescimento e críticas construtivas, poder contar com meus amigos, poder contar comigo. Sucesso é saber que não me saboto como antes, que não deixo mais de comer para ficar esquelética e apenas assim ser amada, que posso escutar a minha própria voz e não mais ignorá-la para caber em qualquer lugar que seja apertado e pequeno demais pra mim. Acho que é isso, eu não me dobro mais inteira para caber em lugares pequenos demais. Eu faço uma analogia com uma árvore dentro de uma caixa: eu sou uma árvore que não para de crescer e que, para continuar frutificando, busca incessantemente a luz, precisa de água na dosagem certa e simplesmente não cabe dentro de uma caixa. Tenho aceitado não ser aceita pelos outros, tenho aceitado a minha forma de existir no mundo, os caminhos que gosto de fazer e como eu gosto de mudá-los. Tenho aceitado a minha raiva; os meus caninos até foram cerrados por um dentista amador, mas eu continuo os sentindo afiados. Tenho aceitado o meu cabelo que é enrolado por natureza e não tento mais domesticá-lo. Tenho aceitado impor os meus limites, mesmo que eles desagradem, firam ou deixem os outros desconfortáveis. Não tenho mais me feito de burra, não finjo mais que não sei sobre um assunto, não visto mais qualquer roupa que não seja a minha pele. A gente tem a ilusão de que quando viaja, experimenta ser livre. Acho graça porque já fui uma dessas pessoas, mas a verdadeira liberdade é ser quem se é em qualquer lugar. Procuramos escapismos o tempo todo quando, na verdade, tudo (e é sério, tudo mesmo) está dentro de nós. É o caminho mais difícil, é o caminho mais tortuoso, é o caminho mais escuro, mais solitário, mais árido, mas, uma vez encarado, é um caminho sem volta. Porque chegar em você, chegar até você, chegar a quem se é, é o único caminho que eu conheço da verdadeira liberdade. O que eu sinto é fome, eu tenho fome de vida, tenho sede de tudo o que ainda quero conhecer, tenho sede mesmo depois de ter bebido todo o oceano. Eu quero a vida plena e viva, quero sentir as coisas, quero sentir a minha pele arrepiar mais vezes, quero sentir outros aromas, conhecer outros lugares dentro de mim mesma, quero me descobrir mais. Toco a vida com graça, faço graça de mim mesma e sou agraciada por nunca ter desistido de mim, por confiar na minha própria voz, por ser eternamente leal ao material do qual sou feita."

 


terça-feira, 18 de julho de 2023

 Enxurradas


Meus eus tantas vezes em conflito

Uns gritos

Uns sussurros

Risos e gargalhadas, ora de graça, ora forçadas

As vezes vêm do intimo

As vezes vem do nada

As vezes puxo na linha pra não perder a  linha

As vezes não adianta

O choro que não vaza

Tem lágrima que fica encruada e alaga mais do que a extravasada

Tem noite que vira dia na madrugada gelada

Tem dia que vira noite quando ainda é madrugada

Tem vezes que quero sentar na calçada, cansada... sento e pulo para não ser tragada pela enxurrada da rua alagada que a lágrima encruada extravasou

O sorriso de canto e o balançar da cabeça ...

Os sussurros olham semi-cerrados o olhar no espelho

Tem tanta licença poética em mim

... mesmo quando tantos muitos julgam que não, eu digo sim

Sim para os meus eus que me constroem e reconstroem

Não tenho vergonha de nada

Com sussurros, gritos, sorrisos e lágrimas

Há o que ninguém tira de mim

A fé dos meus eus, enfim...