sexta-feira, 7 de novembro de 2025

ondas de sol

 

- Pois é, mãe, agora meu cabelo deu pra ser ondulado...

Aqueles fios lisinhos, que não parava um grampo, agora são onduladinhos e rebeldes. Anos da minha vida querendo isso e depois de velha...

- Mas que estranho, será que são os hormônios?

- Ou a falta deles, né mamys, porque vou te dizer, ô troço louco essa porra de menopausa.

- Engraçado, eu não tive nada disso.

- Engraçado nada, sorte a tua. Agooooora estão minimizando com os remédios, mas o calorão de madrugada, só por Deus...insônia já virou amiga e a gente faz o jogo das palavras que vi na internet que ajuda a pegar no sono, as vezes funciona, sem sempre, mas pelo menos exercito o vocabulário. A única coisa que, graças a Oxalá, não me pegou (ou eu penso que não) foi a mudança de humor, isso tá normal... continuo feliz e de bem com a vida. As vezes quero esfolar um ou outro, mas no geral tá normal.

(rimos)

- eu sempre admirei isso em você, ao mesmo tempo que você chora e sofre, você volta com tudo ou tá sempre tentando, se mexendo.

- Ah mamys, não é beeeeeem assim também... é que eu prefiro não fingir a dor, aliás, nenhum sentimento né? Não nasci pra fingir, eu choro e sofro com a mesma intensidade que fico feliz, eu deixo doer, puxo a cadeira pra tristeza sentar e sirvo um café (chafé como eu gosto), ai eu fico ali com ela, porque se eu fechar a porta ou fingir que ela não existe, passar direto, uma hora ela me dá uma rasteira e vai ser pior. Pelo menos eu acho.

A dor é inevitável, sofrer é inevitável, eu deixo acontecer pra poder, também, dar valor e saber distinguir as coisas. Não existe felicidade constante, mamys, isso é utopia demais (poliana demais até pra mim), eu não quero ser idiota de achar que “tá tudo bem sempre”, mas pode ficar tudo bem, se eu souber trabalhar meus sentimentos.

Agora tá doendo menos, a tisteza me visita menos, ainda bem porque o café tá caro (rimos de novo)

Mas é isso, tem dias que eu choro, tem dias que eu calo, tem dias que eu fecho

No dia seguinte já to rindo, falante, aberta pro sol

E vai ser assim, acho, que por um longo tempo ainda, não existe magica nem fórmula

- Eu não sei como você consegue

- As vezes nem eu sei também, mamys. O que mais me intriga é que não sinto raiva, sinto várias coisas, mas raiva não ... sei lá, me sinto meio besta por conta disso, deveria sentir, né? Mas, não sinto...sinto vazios, sinto as tristezas que te falei, sinto magoa, mas raiva... deve ser de outras vidas mesmo, não sei explicar. Eu já falei com Jean, já tentei desvendar isso, mas não chegamos a resposta alguma. Pra mim, a única coisa até agora que explica é isso, de outras vidas... (suspiro).

Enfim, voltando para meu cabelo, nem sei como lidar com tantas ondas (rimos). Mas to amando, nem sempre (rio alto). Tem café?