Márcia faz 47
E nem se dá conta, porque continua querendo desbravar o
mundo.
A energia física já não é a mesma... ela tem algumas dores,
algumas preguiças fora de hora, dorme pouco durante muitos dias e quando o sono
vem, vem acompanhado de dor de cabeça, de um enjoo...
Mas ela ainda encara o pesado, sobe,
desce, varre, passa, lava, é contadora, é conselheira, pedreira, pintora, é pau
pra toda obra.
E ela ainda quer desbravar o mundo, fica pensando daqui uns
anos – quantos anos terá e se poderá fazer isso ou aquilo e aquele outro.
Faz as contas rapidamente, mas logo se perde nos pensamentos
porque não gosta de perder tempo pensando... um erro que com a idade ela ainda
comete, deveria ter aprendido a pensar antes de falar, agir, mas ela muitas
vezes ainda vai no impulso e não tem muita noção de vergonha, brinca, gargalha e
chora com intensidades avassaladoras.
Márcia sonha... e agora realiza, as vezes nem acredita no
que vive, porque alguns sonhos que não tinham sido realizados, agora são.
Estuda, se cobra, é caxias... quem diria Márcia Resk??!!
A menina que cabulava aula, que ia pra diretoria porque vivia
querendo reivindicar direitos, os seus e os de seus colegas de sala, mas que na
hora do “vamove” ficava lá com a cara de pastel levando advertência e mãe sendo chamada na diretoria.
Quem diria que ia fazer faculdade aos 33, pós aos 39 e outra faculdade aos 45??
Quem diria que ia ter filho, criar sozinha, com medo, porque deu medo, mas ela fez assim mesmo!
Nem tudo ela aprendeu, continua dando murro em ponta de faca, batendo a cabeça e sendo teimosa, mas agora ela é mais madura pra lidar com as surras que levou.
As vezes ela pensa “por que não estudei mais antes”, mas sabe que a
vida é feita de escolhas e escolheu o que achou certo naquele momento.
Planta sem muita técnica, mas com muita fé de que a colheita
será boa, mesmo que não seja farta em dinheiro, será farta de amor e sorrisos, alegrias e boas lembranças.
Porque ela é assim, um pouco desvairada, um pouco ingênua, um pouco desligada, mas muito, muito, muito, apaixonada!
Pela estrada, pela caminhada, pelo dia, pela noite, pelo ar, pelo vento, pelo cheiro, pelo som, pelo riso, pelo choro, pela chuva, pela grama, pelos bichos, pelas águas, pelos livros, pelo colorido, pelo horizonte, pelo céu, pelo novo, pelo antigo, pelo divertido, pelo pouco, pelo muito, pela poesia, pela vida... ah... a vida...
Feliz vida
