E quando a gente menos espera, já estamos no banco de trás.
Até bem pouco tempo éramos os condutores, agora somos
conduzidos.
Conduzidos a vê-los alí, crescidos, independentes, donos de
si e do volante, tentando mostrar maturidade de ir e vir sem precisar de
conselhos.
Abrimos a janela pra tentar não pensar em nada, porque os
pensamentos estão alvoroçados de sensações, sentimentos... um misto de orgulho,
com pitadas de medo, com colheradinhas de dúvidas e aqueles ímpetos de querer
dizer pra onde ir, que caminho é melhor, que tem menos tráfego, ou aquele beco
pode ser ruim de passar, tem muito paralelepípedo, rua estreita, mão única...
mas a mão dupla também dá um friozinho na barriga, um arrepio na espinha...
Abrimos a janela pra ventar na nossa cara e o coração tentar
desacelerar, já que o tempo acelerou tanto, pisou fundo.
O rádio já não toca as nossas canções, tem dedinhos modernos
controlando o dial.
Mal verificamos os pneus e já foram recalibrados.
Mal tiramos o cinto de segurança e veio a curva da vida
chacoalhando a gente.
Aquela buzinada na nossa orelha
Dando aquele susto de realidade.
Aqueles olhinhos tão conhecidos da gente, cruzando nosso
olhar pelo retrovisor e sorrindo timidamente como quem diz: ei, eu cresci, obrigado
E agente no banco de trás sorri e com os olhos rasos d’água responde:
é, meu filho, você cresceu. E agora a passageira da sua vida, sou eu.