quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Perpendiculares


Me liberta dos seus medos...me deixa sair daqui

Não guarda minhas meias coloridas...ei, deixa minha botinha vermelha aí

Não...não esconde meu vestido estampado....nem minha sandália cor de sol

Eu aceito o seu salto alto, mas me libera pra andar descalço...eu só quero sentir o chão

Não me tranca nas suas inseguranças...não me despeja do seu guarda roupa...eu ainda to aqui

Me deixa tomar banho de chuva, de mangueira....no quintal

Olha mais de pertinho....

Não deixa o cinza encobrir

Não liga pras piadas que só você ri....e daí?

Tem groselha na geladeira

Faz macarrão com maionese, eu ajudo a limpar a  sujeira

Tudo bem, senta no chão...o gato solta pêlo, mas ele é tão fofinho pra não passar a mão

Você sempre cantava tão bem debaixo do chuveiro....

Tá molhado seu travesseiro

Você não teve um sonho bom?

Você não pode mudar o mundo

Nem fazer ninguém enxergar o que não querem ver

Mas presta a atenção....segue seu coração

Se coloca em oração

Solta a respiração

Lembra do calor, do mar, do ar, do salto de paraquedas....

Lembra da cachoeira

Você sempre desenhou tão bem

Pinta de novo as paredes de dentro

Coloca aquela música que você adora

Deixa pra amanhã a roupa pra passar

Hoje é dia de reencontrar sua alma


sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Batom cor de carmim


Quando eu morrer


Pintem minhas unhas de vermelho...das mãos e dos pés...


É, dos pés também


Me deixem descalça


Me vistam com um longo vestido leve...de preferência vermelho, assim como as unhas


Pinte meus lábios de carmim


Façam isso por mim


Deixem meu corpo com as cores da vida, assim como meu espírito estará


Rodeiem meu corpo com flores brancas, margaridas....pode ser


Um leve tule e um girassol entre minhas mãos....


Uma fita na testa, daquelas dos hippies dos anos 70


E coloquem alguma canção...pra embalar as lágrimas....sim, chorem a partida, mas 

brindem também a vida, a minha que se foi e a de vocês que ainda estão.


Não quero meu velório lamurioso....abram aquele sorriso gostoso ao falarem de mim


Não me façam santa


Mas não enalteçam meus defeitos


Eles eu bem conheço


Se não quiserem, não falem nada...deixe o tempo passar...deixem a saudade 

brandar...deixem  o barco navegar pra imensidão da eternidade



...que seja ao pôr do sol...



E se eu puder, enviarei um arco-íris pra agradecer pelas flores, pelas unhas e pelo batom carmim.




terça-feira, 11 de setembro de 2018

Digitais



Chega uma hora que tudo que você leu nos livros, nos sites, nos murais e lousas, perdem o sentido se não tiver essência

Sua vida grita dentro de você por mais do que gramáticas, equações, logaritmos

Sua vida grita por gostos, opiniões, emoções

Cheiros que não se verbalizam nos livros de química

Sensações que não se reverberam sem um toque...sem um arrepio

Que o som se propaga além dos livros de física...ele propaga na alma e não se explica....não se calcula, não se mede

O globo ocular é mais do que o “responsável pela detecção da luz e pela conversão em sinais elétricos, o olho humano é um receptor ativado pela luz” que vê nos olhos do outro....principalmente quando se tem amor explodindo pela íris

Tudo na vida se aprende sentindo

Ora nos livros

Ora no corpo

Ora na mente

E em todo momento no coração

Um perfume na pele de um, nunca vai ser igual ao da pele de outro

Digitais

Singulares

Únicas

Perfeitas

Um batom pra manchar a bochecha

Uma caneta pra anotar o telefone

O que se aprende na técnica, muitas vezes desmorona na grama, no mar, no ar....

O sorriso que não se controla

Os livros de boas maneiras esquecidos debaixo do sofá

A dança no silêncio ensurdecedor dos braços enlaçados num abraço

E a lágrima que ninguém jamais estudou.....

Sentimento não se lê nas linhas dos livros

Se lê nas linhas da alma



terça-feira, 4 de setembro de 2018

Tornozeleira de miçangas


Não quero saber a sua idade...nem quanto tempo faz que você saiu de casa

Não me faz diferença saber onde você mora

Se vai a pé, se vai descalço, se vai sobre rodas

Não me diz respeito o seu trabalho, mas o seu olhar sobre o que aflige a vida alheia...não a fofoca sobre quem fez o que, mas sobre o que você faz pra proporcionar a alguém um sorriso, um sonho, uma lágrima de emoção....

Um afago na alma

Um beijo na testa

Um aperto de mãos

Bons amigos sem mesmo se conhecer

Um banho de chuva

O nascer e o morrer do sol

Não preciso saber que carro você tem, se tem, mas me importa para quantas pessoas você já deu carona numa noite de chuva, num dia de sol escaldante...se no teu porta malas cabem histórias...

Não me conte os números da sua conta...não gosto de exatas

Me conte contos, crônicas, poesias....eu gosto de andar na areia com tornozeleira de miçangas

Não preciso saber  quantas vezes você já respirou, mas adoraria saber quantas vezes ficou sem fôlego diante de uma emoção

Viva como se fosse morrer...porque você vai...eu vou...todos vamos

Os ciclos se encerram e então, me diz, o que você vai levar na alma é mais importante do que você tinha nos bolsos?

As rugas do seu rosto tem nome e sobrenome? Ou são apenas pelo tempo que passou?

Me conte quantos sonhos você deixou morrer com o passar dos anos....e quantos você ainda guarda no peito, mesmo que sejam utopias...o que fez seu olho brilhar

Você já contou estrelas?

Conte....porque eu realmente não quero saber sua idade....