Depois que a gente passa por umas experiências na vida,
começa a reconhecer alguns comportamentos alheios.
Eu estava ali, sentada, quase cochilando quando olhei pros
passageiros em pé... notei imediatamente o nariz vermelho... não, não era de
gripe, de rinite, de coceira... era de choro.
Ela olhou pra cima, engoliu “seco”... balançou o corpo como
que querendo espantar aquele choro, aquele pensamento que causava dor...
Segurou... segurou... mas foi inevitável, disfarçou e
enxugou um olho...
respirou fundo, olhou pra cima e enxugou o outro, o olhar
perdido pra fora do ônibus...
Me vi alí...tantas vezes segurando as lágrimas, tantas vezes
não segurando...
Quem nunca?
Quem nunca deixou a emoção falar mais alto do que as vozes
dos transeuntes lotando os ônibus, os metrôs....
Quem nunca usou o cabelo pra tapar o rosto e esconder as
marcas daquela dor...
Uma doença, um amor perdido, uma perda em vida, uma perda em
morte...
Um desemprego, um mal-entendido, um pedido não feito, um
pedido não aceito...
Quem nunca chorou de óculos escuros achando que ninguém
notaria.
E quem nota???
Quem um dia também chorou assim, alí, em pé, sentado,
escondido ou escancarado.
Ela estava alí, pertinho de mim, vi seus movimentos, tentei
ser discreta.
Ela passou por mim, já um pouco refeita, talvez pelos
pensamentos mais práticos... o que fazer no jantar, estudar com o filho,
arrumar as malas...
Ela passou e eu pedi nas minhas
orações que ela consiga enxergar além das lágrimas, que ela consiga descer do
ônibus e elevar seus pensamentos...
Confia que seu coração não se arrependa, mas se se arrepender
você aprenda...
Aprenda a enxergar com mais clareza, mais leveza, mais
certeza.
Que a dor de agora, não te impeça de tentar de novo...
Seja como for, confia...!