sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A fuga do papagaio

Frequento essa casa onde moro, depois que casei, há quase 4 anos e desde o incio fui apresentada ao Bruce - o papagaio.

Tentei de tudo pra fazer o bichinho gostar de mim, conversei com ele, cantei, assoviei, arrisquei um carinho, mas o penoso é muito arredio comigo e sempre me botou medo.

Todo mundo sempre brincou dizendo que ele era bonzinho, eu que era a má....sei sei...

Nesse tempo todo, nunca consegui estreitar os laços de amizade com ele....não sei, de verdade, por que ele não gosta de mim.

Enfim....eu preferiria que ele estivesse solto, livre dessa gaiola, mas ele foi resgatado machucado pelo povo daqui e não consegue mais ser inserido na vida selvagem.

Está aqui, há anos convivendo com todos, menos comigo.

A sogra viajou, o marido trabalhando e eu em casa cuidando dos afazeres. Percebi que o bicho tava sem água e sem comida e pensei: poxa, você cuida dos gatos e da cachorra, não vai cuidar de um papagaio?? Não, né Márcia Resk?! Você é uma mulher ou um saco de batatas??
Vai lá, coragem pra trocar a agua e alimentar o garotão. Afinal, quem pode mais? Você ou ele?

Ok, Ok.....confesso que cobri meu braço todo com um pano de chão antes de enfiá-lo dentro da gaiola.

Abri com cuidado e ele me olhando do cantinho. Peguei o pote de água...uhuullll! 

Consegui. 

Agora vamos pegar o pote de comida. Abri novamente e....PQP!!!! O papagaio fugiu!!!!

O filho da mãe passou pelo vão e foi parar no beiral da escada, do lado contrário da grande onde exatamente eu não tinha como alcançar.

Bruce não...por favor, não voa.....fica aí.

Os dois gatos ficaram em posição, o gato vizinho subiu no muro e os olhos brilhavam, a cachorra só queria cheirar e fazer farra....nunca que esse papagaio fugiu! Uns poucos minutos de liberdade e estavam todos em polvorosa.

Peguei o pano pra tentar jogar nele e evitar que ele voasse.

Sem posição, fui "empurrando" ele pelo beiral até ter uma chance de jogar o pano.

Ele andou um pouco pro lado, tava dando certo....os gatos cada vez mais ouriçados....daí a cachorra chegou perto demais pra cheirar e ele abriu as asas gritando pronto pra assumir o voo da fuga perfeita e eu sem saber o que fazer, joguei o pano e....errei.

Ele foi voar e eu agarrei ele, que imediatamente gritou e me bicou.....não pensei em mais nada além daquela dor fdp e gritei  mais alto que ele......gritei como um papagaio alfa....ele assustou e parou por um segundo de me bicar, eu continuei gritando e ele voltou ao seu bico assassino....

A distância de onde eu tava até a gaiola dele parecia a da ponte Rio-Niterói...não chegava nunca naquela porra de gaiola e eu gritando e sendo bicada.... joguei o papagaio lá dentro fechando com toda minha ira e dor.

Não,eu não feri o bicho...ELE me feriu. Minha mão tava banhada em sangue, minhas pernas tremendo e minha dignidade....nem sei onde foi parar.

Eu ria e chorava ao mesmo tempo, xinguei todas as gerações papagaísticas e jurei que nunca mais abriria aquela porta, nem pra colocar um grão de milho.

Quem pode mais?Eu ou o papagaio??

Claro que ele.

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