13 de abril de 1974
Nascia em Corumbá/MS, eu com meus 64 cm de comprimento, meus
braços longos e pernas bagunçadas... o calor da cidade me fez empipocar, mas eu
estava lá, pronta pra desvendar os mistérios da vida.
E a vida foi se mostrando divertida, lembro de muitos
sorrisos, de muita peraltice, de muitos olhares curiosos, de muita vontade de
viver.
De criança a menina, eu fui firme com as zombarias, chacotas,
brincadeiras bobas do colégio, porque sim, uma menina comprida, magriça, espoleta
como eu era, que pulava os muros, corria como um corisco e batia nos meninos...
não podia esperar que minha característica mais marcante fosse a fofurice, a
meiguice (apesar de eu ser sempre sorridente). Eu era muito levada e isso só me
fazia ser notada pra algumas broncas, mas eu não ligava, eu brincava o máximo
que podia e tirava boas notas...
mas a menina virou mocinha, deixou o cabelo crescer, mas não
deixou de ser espoleta. Eu não deixei a vida me derrubar na famosa adolescência...
fui bem a frente do que poderia ser na época e briguei muito pra ser de fato
quem eu era e gostava de ser. Perdi amigas, muitas, porque se julgava demais e
escutava-se de menos. Eu me fiz autentica, quando as mais cobiçadas eram as
mais delicadas... eu não era. Eu queria dançar, eu queria escrever, eu queria
desenhar, cantar, jogar volley... eu queria o mundo e continuei brincando com a
vida e era feliz, mesmo por vezes sendo ignorada por alguns e julgada por
muitos.
Eu sabia quem eu era, e isso me bastava. Louco pensar que há
30 e pouco anos eu era uma rebelde sem causa só porque eu queria usar a roupa
que eu gostava, o cabelo, o brinco, o tênis colorido e no fundo eu era tão
careta rsrsrs
A mocinha virou mãe muito nova, eu sei, mas que fascinante
ter um filho com 22/23 anos. Hoje meu menino é um homem com quem compartilho
tantas coisas boas, meu beinho... meu grande amor me fez ser mãe, mulher, lutar
pelo que ele merecia... sim, porque mesmo sendo apenas há 27 anos, ser mãe solo
não era das melhores coisas que poderiam acontecer. Quantas vezes ouvi (no
cochicho) que eu não era mulher pra ter relacionamento sério, quem vai querer
namorar uma mulher com filho pequeno?
E assim a vida foi indo e eu fui em muitas marés... marés
calmas, marés mais bravas e até alguns tsunamis.
Minha vida foi indo e muitas e muitas vezes eu questionei se
era o melhor pra mim, pra meu filho, mas eu fui... naquele momento as decisões
pareciam certas, e não é que hoje eu me arrependa...ah, me arrependo de algumas
sim, não vou mentir. Se eu tivesses feito algumas coisas diferentes, talvez eu
tivesse menos culpas hoje... pois é.. a menina que corria pelo pátio do colégio
sem medo de cair e se machucar, ficou um pouco vulnerável com algumas coisas e
com a idade. Quando todos diziam não liga pra isso ou pra aquilo hoje, lá traz
era eu quem dizia pra mim mesma.
Hoje, entendo que eu poderia ter sido menos impulsiva, menos
impaciente
Dizem que seria tão bom se tivéssemos 20 anos com a cabeça
dos 40-50... mas isso é praticamente impossível. A gente é soma das nossas horas
vividas e não tem como não ser.
Eu olho pra mim aos 15 e vejo que delicia foi aquilo tudo,
aquele turbilhão de emoções e sensações que a vida me deu. Mas olho também para
as decepções e erros e penso: se eu não tivesse feito assim, quem seria eu
hoje?
Eu não digo que não mudaria nada, mas seria triste perder
essa história, então... agradeço.
Esse ano completei 50 anos... pois é, quem diria que eu
seria tão plena aos 50? E não digo de coisas materiais, se bem que conseguir
realizar sonhos lindos, com ajuda e empurrões, pois não teria conseguido se fosse
sozinha, eu agradeço. A maturidade me faz perceber que ninguém é incapaz só
porque o outro ajudou. A gente pode ter ajuda e ainda sim ser capaz de ser quem
somos, sem orgulho, bobagem de orgulho de não reconhecer.
Tenho 50 anos com a alma daquela menina do colégio, que
corria pra baixo e pra cima que escorregava no corrimão da escadaria principal,
que pegava a bola e saía correndo, que pulava os muros sem nem se dar conta que
se eu tivesse caído ... vixe...
Eu tenho orgulho de mim, de ter a alma jovem, mesmo que
minha lombar não corrobore com isso.
Eu queria ficar pra semente, é serio... eu queria poder
viver muitos e muitos anos porque eu amo avida, eu amo ser a Márcia, eu amo ser
quem eu sou, viver com quem eu vivo, eu amo ver o por do sol, amo ouvir o som
da natureza, o som do meu gato suspirando... mas eu sei que não vou ficar aqui
pra sempre. Pode parecer bobagem, mas eu fico pensando: quantos anos mais eu
poderei viver, até os 80, então são 30... até os 90, então são 40 e quantas cosias
mais posso fazer durante esse tempo que resta, mas quantas pessoas vou perder
pelo caminho?
A mente é uma arma que pode ser usada contra nós as vezes
Fazer 50 anos não me deixou pessimista, não, nada disso, mas
realista que as coisas findam e seria infantilidade minha achar que não...
minha Pollyana tem estado mais madura ultimamente, mas jamais triste, mesmo com
algumas dores, decepções, desilusões, medos e inseguranças... eu ainda sou a
mesma menina que sorri com os olhos pra vida.
Mas aprendi a reconhecer que algumas coisas não poderão ser
feitas como eu gostaria.
Eu sempre soube valorizar pequenos momentos, coisas simples,
mas agora aos 50, acho que valorizo ainda mais.
Eu demorei pra escrever sobre meu aniversário, mas acredite,
eu vibrei muito no dia e vibro até hoje a alegria, a dádiva de ter feito 50
anos de vida.