quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Entre sins e nãos

 

Cada vez que eu penso que não

Mais percebo que sim

E assim, devagarzinho

Você vai se afastando de mim

Os passos ficam mais largos

Os olhares mais perdidos

E desenlaçam-se as mãos

De repente vem o toque do pé, e aí eu penso que sim

Mas amanhece de novo, eu percebo que não

Já não vejo mais você chegar

E quando vejo, não sou vista

Não se tem mais o que falar

Eu diria que sim

Mas sinto que não

Um trava-línguas de sentimentos, sem voz, no silêncio

Se eu pudesse... será que devo?

Deveria ser sim... mas o abismo diz... não

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

brechós emocionais

 

Me desapego de roupas, sapatos, bolsas e brincos

Me desfaço de coisas que não uso com facilidade, mas nunca sem emoção

Sou grata pelo que tive e pelo que me serviu o tempo que usei

Mas são coisas, tudo bem

Desapegos materiais pra mim, são fáceis

Mas não desapego de emoções e, entenda, eu digo emoções e não sentimentos, porque sentimentos que não fazem bem, também desapego.

Mas tenho a mania de guardar emoções

Olho fotografias e sorrio

Ouço musicas e “viajo”

Sinto cheiros e perfumes e me enebrio

Eu sou assim

“seguro a chave de casa e fico procurando”, “vou de carro e volto de ônibus”

Eu sou feita de emoções

Não jogo fora as lembranças, nem as ruins, mas essas eu não tenho apego... entende a diferença?

Minha memória recente nem sempre me ajuda, mas lembro de coisas tão antigas... meus 5 anos olhando o arco-íris pendurada no muro daquela casa que a gente morava que tinha tacos no chão e um quintalzão!

E não é nostalgia, eu aceito bem o presente e não vivo do passado, mas quando bate a saudade daquele arco-íris...

E hoje peguei essa foto, eu era tão bonitinha rsrs

Eu tinha 7... talvez  8 anos e era tão travessa, mas tão feliz.

E tudo bem que eu cresci (que bom), mas tão lindo ter esse sorriso pra me lembrar que é isso... a roupa não serve mais, mas esse sorriso de criança eu não quero jamais desapegar.




quarta-feira, 10 de julho de 2024

Bodas de Ouro

 

13 de abril de 1974

Nascia em Corumbá/MS, eu com meus 64 cm de comprimento, meus braços longos e pernas bagunçadas... o calor da cidade me fez empipocar, mas eu estava lá, pronta pra desvendar os mistérios da vida.

E a vida foi se mostrando divertida, lembro de muitos sorrisos, de muita peraltice, de muitos olhares curiosos, de muita vontade de viver.

De criança a menina, eu fui firme com as zombarias, chacotas, brincadeiras bobas do colégio, porque sim, uma menina comprida, magriça, espoleta como eu era, que pulava os muros, corria como um corisco e batia nos meninos... não podia esperar que minha característica mais marcante fosse a fofurice, a meiguice (apesar de eu ser sempre sorridente). Eu era muito levada e isso só me fazia ser notada pra algumas broncas, mas eu não ligava, eu brincava o máximo que podia e tirava boas notas...

mas a menina virou mocinha, deixou o cabelo crescer, mas não deixou de ser espoleta. Eu não deixei a vida me derrubar na famosa adolescência... fui bem a frente do que poderia ser na época e briguei muito pra ser de fato quem eu era e gostava de ser. Perdi amigas, muitas, porque se julgava demais e escutava-se de menos. Eu me fiz autentica, quando as mais cobiçadas eram as mais delicadas... eu não era. Eu queria dançar, eu queria escrever, eu queria desenhar, cantar, jogar volley... eu queria o mundo e continuei brincando com a vida e era feliz, mesmo por vezes sendo ignorada por alguns e julgada por muitos.

Eu sabia quem eu era, e isso me bastava. Louco pensar que há 30 e pouco anos eu era uma rebelde sem causa só porque eu queria usar a roupa que eu gostava, o cabelo, o brinco, o tênis colorido e no fundo eu era tão careta rsrsrs

A mocinha virou mãe muito nova, eu sei, mas que fascinante ter um filho com 22/23 anos. Hoje meu menino é um homem com quem compartilho tantas coisas boas, meu beinho... meu grande amor me fez ser mãe, mulher, lutar pelo que ele merecia... sim, porque mesmo sendo apenas há 27 anos, ser mãe solo não era das melhores coisas que poderiam acontecer. Quantas vezes ouvi (no cochicho) que eu não era mulher pra ter relacionamento sério, quem vai querer namorar uma mulher com filho pequeno?

E assim a vida foi indo e eu fui em muitas marés... marés calmas, marés mais bravas e até alguns tsunamis.

Minha vida foi indo e muitas e muitas vezes eu questionei se era o melhor pra mim, pra meu filho, mas eu fui... naquele momento as decisões pareciam certas, e não é que hoje eu me arrependa...ah, me arrependo de algumas sim, não vou mentir. Se eu tivesses feito algumas coisas diferentes, talvez eu tivesse menos culpas hoje... pois é.. a menina que corria pelo pátio do colégio sem medo de cair e se machucar, ficou um pouco vulnerável com algumas coisas e com a idade. Quando todos diziam não liga pra isso ou pra aquilo hoje, lá traz era eu quem dizia pra mim mesma.

Hoje, entendo que eu poderia ter sido menos impulsiva, menos impaciente

Dizem que seria tão bom se tivéssemos 20 anos com a cabeça dos 40-50... mas isso é praticamente impossível. A gente é soma das nossas horas vividas e não tem como não ser.

Eu olho pra mim aos 15 e vejo que delicia foi aquilo tudo, aquele turbilhão de emoções e sensações que a vida me deu. Mas olho também para as decepções e erros e penso: se eu não tivesse feito assim, quem seria eu hoje?

Eu não digo que não mudaria nada, mas seria triste perder essa história, então... agradeço.

Esse ano completei 50 anos... pois é, quem diria que eu seria tão plena aos 50? E não digo de coisas materiais, se bem que conseguir realizar sonhos lindos, com ajuda e empurrões, pois não teria conseguido se fosse sozinha, eu agradeço. A maturidade me faz perceber que ninguém é incapaz só porque o outro ajudou. A gente pode ter ajuda e ainda sim ser capaz de ser quem somos, sem orgulho, bobagem de orgulho de não reconhecer.

Tenho 50 anos com a alma daquela menina do colégio, que corria pra baixo e pra cima que escorregava no corrimão da escadaria principal, que pegava a bola e saía correndo, que pulava os muros sem nem se dar conta que se eu tivesse caído ... vixe...

Eu tenho orgulho de mim, de ter a alma jovem, mesmo que minha lombar não corrobore com isso.

Eu queria ficar pra semente, é serio... eu queria poder viver muitos e muitos anos porque eu amo avida, eu amo ser a Márcia, eu amo ser quem eu sou, viver com quem eu vivo, eu amo ver o por do sol, amo ouvir o som da natureza, o som do meu gato suspirando... mas eu sei que não vou ficar aqui pra sempre. Pode parecer bobagem, mas eu fico pensando: quantos anos mais eu poderei viver, até os 80, então são 30... até os 90, então são 40 e quantas cosias mais posso fazer durante esse tempo que resta, mas quantas pessoas vou perder pelo caminho?

A mente é uma arma que pode ser usada contra nós as vezes

Fazer 50 anos não me deixou pessimista, não, nada disso, mas realista que as coisas findam e seria infantilidade minha achar que não... minha Pollyana tem estado mais madura ultimamente, mas jamais triste, mesmo com algumas dores, decepções, desilusões, medos e inseguranças... eu ainda sou a mesma menina que sorri com os olhos pra vida.

Mas aprendi a reconhecer que algumas coisas não poderão ser feitas como eu gostaria.

Eu sempre soube valorizar pequenos momentos, coisas simples, mas agora aos 50, acho que valorizo ainda mais.

Eu demorei pra escrever sobre meu aniversário, mas acredite, eu vibrei muito no dia e vibro até hoje a alegria, a dádiva de ter feito 50 anos de vida.