terça-feira, 3 de maio de 2022

Passageiros

 

E quando a gente menos espera, já estamos no banco de trás.

Até bem pouco tempo éramos os condutores, agora somos conduzidos.

Conduzidos a vê-los alí, crescidos, independentes, donos de si e do volante, tentando mostrar maturidade de ir e vir sem precisar de conselhos.

Abrimos a janela pra tentar não pensar em nada, porque os pensamentos estão alvoroçados de sensações, sentimentos... um misto de orgulho, com pitadas de medo, com colheradinhas de dúvidas e aqueles ímpetos de querer dizer pra onde ir, que caminho é melhor, que tem menos tráfego, ou aquele beco pode ser ruim de passar, tem muito paralelepípedo, rua estreita, mão única... mas a mão dupla também dá um friozinho na barriga, um arrepio na espinha...

Abrimos a janela pra ventar na nossa cara e o coração tentar desacelerar, já que o tempo acelerou tanto, pisou fundo.

O rádio já não toca as nossas canções, tem dedinhos modernos controlando o dial.

Mal verificamos os pneus e já foram recalibrados.

Mal tiramos o cinto de segurança e veio a curva da vida chacoalhando a gente.

Aquela buzinada na nossa orelha

Dando aquele susto de realidade.

Aqueles olhinhos tão conhecidos da gente, cruzando nosso olhar pelo retrovisor e sorrindo timidamente como quem diz: ei, eu cresci, obrigado

E agente no banco de trás sorri e com os olhos rasos d’água responde: é, meu filho, você cresceu. E agora a passageira da sua vida, sou eu.

 













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